Palavras Sobre o Nosso Anjo

por Lis 


Eu vi um grupo de metaleiros outro dia mesmo e eu me lembrei da minha falecida irmã, Lille. Tem muita coisa nesse mundo que lembra ela, aliás. As artes, os livros, a música, a natureza... 

Mas ela era uma “metaleira”, e se deu muito mal sendo metaleira. Pensar nisso me dá uma tristeza tão grande... Nós abominamos a "tribo Metal" por causa do sofrimento dela, que foi gratuito. 

E quem tira sarro disso, que vá pra p.q.p., entendeu? Ninguém sabe o que nós vivenciamos, ninguém sabe o tipo de problema que enfrentamos, e pra contar tudo que aconteceu com minha irmã, faltam palavras. Vamos lá. 

Imagine aí uma moça linda, tipo top model. Magra e longilínea, rosto expressivo lotado de sardas, cabelos ruivos naturais. Essa era a Lille. Além de linda, era simpática e educadíssima.
Era praticamente uma boneca. 
Então, apesar de ter tantas qualidades, ela vivia reclamando da hostilidade dos metaleiros quando ela tentava se enturmar. 

Ela tinha um grau leve de autismo e se virava como podia para se enturmar, mas ela era simpática, poxa... Eu não sei por que raios os metaleiros tratavam mal a minha irmãzinha. Ninguém nunca entendeu. 

Aliás, eu sempre achei que o Metal não era coisa para ela, mas não adiantava falar. Eu acho que ela queria pertencer a algum grupo, ter uma "família", deve ser porque a mãe dela (temos apenas o mesmo pai) rejeitou ela com todas as forças. 

Então. Eu acompanhei de longe a trajetória dela. Ela morava sozinha e toda semana tinha uma treta fresquinha. Meus ouvidos doeram de tantas horas ao telefone escutando aquela vozinha mansa reclamando pra mais de metro. 

Um dos problemas aconteceu em um evento Underground. Minha irmã cometeu a manota de não vestir as roupas adequadas para a "missa". Apareceu no local de roupas claras, sem spikes, sem coturnos, simplesmente de all-star, Blue Jeans e camiseta branca – tipo uma pombinha do Vaticano no meio dos urubus. O evento nem tinha começado quando apareceu um cabeludo mal encarado implicando com ela. Ela ficou super sem graça. 
Daí o cabeludo apelou e quis literalmente expulsar ela do local, porque o desfile evento não era de Hard Rock, era de Black Metal. 
Ok, darling, beijo. 
Pior: Lille foi embora. Foi emboraaa! 
Eu teria ficado e ainda feito o cabeludo passar vergonha, mas eu sou eu, Lille era Lille. Ela tinha o grau leve de autismo. Não fazia mal a ninguém e não conseguia nem se defender.    

Apesar de tudo, o evento foi um fiasco. Rá. Dispenso falar dos podres que fiquei sabendo, com direito a pingente de crucifixo invertido agarrado no cabelo pixaim de certo vocalista durante a apresentação. Detalhe: o crucifixo ficou agarrado na posição normal...

Outro problema aconteceu em um grande protesto político no Brasil, quando alguns metaleiros toparam com ela na rua, cercaram-na e isolaram-na em um lugar mais deserto, tirando sarro e gritando no ouvido dela. Os caras empurraram ela, mandaram ela ir embora dali, assim, do nada, no meio da rua! Pra quê, véi? Pra quê?? O_O

Lille voltou pra casa tremendo, chorou durante uma semana. 
Camiseta do U2 com acessórios Heavy Metal é uma combinação mortal, Lille aprendeu do pior jeito. O patrulhamento tr00 and kvlt existe só pra regular o visu e a moral alheia. Porque não tem outra coisa para fazer, só isso. É igual aqueles beatos de igreja, só que do lado avesso. 

Doía mais quando tiravam sarro por causa do Dissection, a banda do coração dela. Sempre aparecia um idiota pra lhe dar "aulinhas" pressupondo que ela não soubesse de nada, ou querendo tirar sarro mesmo. Aliás, todo metaleiro se acha melhor que todo mundo, e pressupõe que os outros sejam idiotas. 

Fora isso 'Menina + Dissection' também é uma combinação arriscada segundo as regras tr00 and kvlt. 

Não, menina não pode curtir Dissection. Menina não pode ter todos os discos e muito menos ter conhecido Jon. O ego dos tr00 não deixa.

Porque na mentalidade dos tr00, menina que curte Dissection tem um desejo oculto de ser sodomizada pelo Jon Nödtveidt nas profundezas do Tártaro. Mas  Lille tinha razão pra pensar qualquer coisa de quem ela quisesse, e pontofinal.

Aqueles que diziam que Lille tinha sonhos com o Jon são os mesmos hipócritas que sonham com a Simone Simons (e juram que curtem Epica pela música). E também os mesmos que queriam ser iguaizinhos ao Jon só pra ter a chance de conquistar uma ruiva tão linda quanto a Simone. 

Outros problemas menores se intercalaram: os metaleiros com câncer de cotovelo viviam debochando de Lille nas redes sociais, dizendo que ela era uma pirralha, que ela não entendia nada de Metal, que ela era uma poser maria-shampoo, arrogante, pretensiosa, metida à culta - puro mimimi de gente que não suportava tudo que ela era.  

Enfim, era aquela lógica da mercadoria: depreciar pra levar mais barato. Lille era muito consciente do valor que tinha, metaleiro nenhum nunca teve chance com ela, mas ela chorou a vida toda por causa dessa gentinha doente... Ela chorou por não entender essas coisas.  


Mas, apesar de ser rechaçada pelos metaleiros, Lille inaugurou um estigma positivo pra corja de jovens que, por onde passam, todo mundo pensa que é arrastão. O comportamento dela, suave, gentil, delicado derrubou preconceitos de muita gente que ela conheceu

Lille apresentou o mundo do Metal aos "comuns". Não a fim de supervalorizar o Metal, mas para mostrar que no Metal também é possível se encontrar gente de valor. 

Mas quer saber? Eu, Lis, já experimentei ser metaleira, não gostei, fora que eu nunca considerei metaleiro uma raça de gente prestável. 

Maioria não faz nada, nunca fez e nunca fará nada por coisa nenhuma. Não dá pra levar metaleiro a serio quando a gente pensa na dinâmica do mundo. E metaleiro ainda acha que tem moral pra julgar o mundo. Todo metaleiro tem a doença que eu disse ali em cima e torno a repetir: de se achar melhor que todo mundo, especial, único, diferentão e de pressupor que todo mundo seja idiota.

Lille faleceu. Não está mais aqui. Exceto em nosso coração, ela deixou de existir. Mas eu imagino que se ela estivesse aqui, estaria enfrentando mais metaleiro (porque ela não desistiria do Metal). 

Dependendo do ponto de vista, Lille venceu a batalha.
Muito me consola pensar que esse mundo não é de jeito nenhum o melhor lugar para alguém como ela. E quando Deus Pai quer mudar o destino de alguém, dá a essa pessoa muita coragem. Seja para que ela faça obras na Terra, seja para levá-la de volta ao Céu.


Descanse em Paz, Lille. Nós sentimos sua falta. 
(1987- 2014)


Levando na Esportiva

por Lis 

Topei um passeio com uma amiga nesses dias. E a pessoinha atrasou pra caramba. Então eu fiquei lá, igual dois de paus, ralhando várias hipóteses:

- O atraso é sinal de desrespeito pelo meu tempo – eu me coloquei no centro da questão.

- A pessoinha se atrasou para me dar um chá de cadeira propositadamente – aí eu me coloquei no centro da questão de novo e pensei ainda que ela queria me pirraçar.  

Tá bom, essas hipóteses podiam ser verdades, mas pense Lis, o que mais o atraso pode significar?

- Talvez o atraso seja motivado pelo trânsito, ou por algum imprevisto qualquer que fugia do controle dela. Ufa. Pronto. A amizade foi conservada e o passeio foi legal. Dorei.

Voltei filosofando no busão. Até me esqueci de dar o sinal e acabei descendo beeem longe do lugar de costume, mas aproveitei a caminhada pra acabar de filosofar.

É muito feio, mas muito ridículo mesmo, dar a nós mesmos uma importância maior do que realmente temos.

Então. Gente com uns parafusos a menos, que realmente quer fazer hora com nossa cara de propósito, é bem menos comum do que gente que acaba fazendo hora por questões particulares ou puro nonsense mesmo.

Diante disso tudo aí, uma pequena atitude é decisiva: levar as coisas na esportiva, que é a arte de retirar-se do centro do Universo. Aposto que já inventaram até um manual pra isso, de tão legal e de tão útil.

Levar a vida na esportiva ajuda desencanar. E uma vida mais desencanada é uma delícia de viver. Todo mundo tinha que experimentar não se levar tão a sério. Não dói e descansa a beleza.

É mandar longe a paranoia e ser feliz.

Bicho Esquisito em (Minha) Casa

 Lis 

Lá ia ele bem devagar, bem no meio do corredor. Fiquei olhando para ele... E me lembrei da noite anterior, quando ele invadiu minha casa. Com estabilidade de teco-teco, ele fez um rasante na minha testa, bateu na parede, decolou, bateu no teto, rodopiou, decolou de novo, entrou na luminária e me obrigou a dormir na sala.

Então, ele continuava ali andando. Na maior cara de pau.

- Fi´damãe, vou quebrar seu galho, tá? – e enchi a bicuda no bicho.

Ele deslizou pela cerâmica, parando uns três metros à frente. Encolhido e imóvel.

- Morre, praguinha. Morre...  

Não morreu nada; continuou andando, lerdaço, mas continuou.

Embicudar ou esmagar?
Levantei o chinelo.  

“Agora ferrou”, ele deve ter pensado; porque ele se encolheu e ficou quietinho, esperando pela morte. “Pra que isso, véi?”

Né? Covardia.   

Calcei o chinelo de novo. Agachei e cutuquei o bicho. Ele se mexeu devagarzinho. Bem devagarzinho até parar.
Derramei uma aguinha perto dele. Ele se arrastou até ela, bebeu um pouco e de repente se recuperou. Aí andou depressinha...

- Vem aqui, vamos bater um papo. – Peguei o bicho, morrendo de medo de ele me fincar, morder, picar, ou sei lá.

Não, ele só curtiu o quentinho da minha mão, só isso. Depois começou a explorar meu braço. Dava uma gastura danada, mas tipo...  

- Você voa mal pra cacete, hein, carinha? Queria adotar você, mas acho que não vai rolar. Eu acabei de embicudar você, né... Todo mundo adora embicudar e esmagar sua galera e ninguém tá nem aí. Eh... Os Direitos dos Animais não te protegem... Não sei por quê. Deve ser porque você é esquisito... Coitadinho. O ser humano é assim também, sabe? Muito relativo.

O bicho parou no meu cotovelo. Depois voltou devagarzinho para a minha mão.  

- Mas liga não, cascudo. A vida é injusta mesmo. Seria pior se você fosse um pernilongo. Pensa bem... Vai lá fazer o desjejum.  

E aí eu coloquei o bicho na terra, no meio do mato. Daí um pouco ele sumiu. 

Fiquei pensando nele. Pensei nas abelhinhas inofensivas que invadiram a estante do Arne. Pensei no morceguinho que outro dia mesmo ficou preso na cerca ali fora e morreu. Pensei nas cigarras barulhentas. Pensei nos passarinhos amarelinhos que ficam pousados nos fios dos postes, parecendo notas musicais na pauta. Pensei nas bruxinhas beges que ficam circulando a lâmpada de noite. Pensei nos calangos verdes, que parecem miniatura de jacaré e respiram bem devagarzinho. Pensei nas formigas vermelhas que comeram o manjericão e a salsa lá na horta. 

Eh... Eu fiz mais que obrigação de não esmagar o cascudo. 
Ele não invadiu a minha casa. Eu que invadi a casa dele. Cara de pau é a minha.  


Você é o que você veste

Eu queria escrever uma boa crítica sobre esse lance de tribo urbana, mas não vale a pena gastar meu sofrido português na esperança de fazer alguém pensar.

Primeiro que quem quer fazer parte de alguma tribo urbana não se pergunta o porquê de fazer isso. Não pensa, não reflete, tanto pela idade, geralmente são jovens, quanto por causas psicológicas, tipo vontade de ter uma identidade, pertencer a algum grupo, ter amigos etc. Espalharam por aí que isso de ter uma tribo é necessário, a psicologia moderna deu a bênção, então tá bom.   

Mas se eu pudesse dar uns conselhos pra cada um que pensa em mudar estilo por causa de som ou por vontade de ser diferente, os conselhos seriam estes:
1- NÃO FAÇA ISSO. Ter uma tribo não te beneficia em NADA e você pode se arrepender disso depois. É frustrante tentar fazer amigos em tribos urbanas, todos querem ser o alfa. Ou você é o cara, ou você é o puxa-saco do quem é o cara. E mudar o visual por causa de ideologia vai causar sempre o contrário do que você espera.  

2- No futuro, você verá que ser normal é extremamente confortável. Ser respeitado por ser mais um do mesmo garante mais chances na vida do que ser temido por ser um estranho.
Por exemplo, a tribo urbana mais comum é a tribo metaleira (headbanger é a PQP, seu paga pau de gringo) Ninguém gosta de metaleiro. Nem metaleiro gosta de metaleiro, muito menos de metaleira, só pra começo de conversa.

Metaleiro não é bem vindo em lugar nenhum. Mesmo que o cara seja PhD em qualquer coisa ou tenha sido laureado com premio Nobel, a primeira coisa que galera vai pensar dele, antes de ele abrir a boca, é que ele é no mínimo um vagabundo irresponsável, um crianção e no máximo um músico frustrado.


Mas não é só metaleiros que ficam mal na fita: o sujeito excêntrico que não sabe ou não quer se vestir conforme a ocasião também acaba rejeitado.
O sujeito que anda desleixado, com cabelo bagunçado, roupa surrada, amarrotada, suja e sapato furado também causa desconfiança. Mulher que usa roupa colada ou curta em todo lugar também não é perdoada. 

O jeito é não forçar a barra. Visual adequado é muito importante. Não to falando de usar roupa de marca, não. To falando de ter bom senso. Não custa nada.

Por mais que você se ache diferente, por mais que você queira mostrar ser um diferente diferente, e queira lutar para que os diferentes iguais a você sejam aceitos, faça isso do jeito mais harmônico possível. 
É ruim ter que se explicar, é ruim constranger ou ser constrangido, e ainda por cima por sua própria culpa. Quem paga mico, diverte só os outros.

Trabalho é trabalho, casa é casa, restaurante é restaurante e padaria é padaria. Se você não aprender isso, vai ter porteiros, seguranças, chefes e proprietários que ensinarão como deve ser. Assim é a vida, e não adianta querer impor sua vontade. Ninguém é obrigado a aturar esquisitices e manias. Ninguém é obrigado a adivinhar quem você é.

Se quer ser um esquisito, prepare-se para as consequências. Se quiser ser bem tratado, apresente-se para tal, a menos que você seja podre de rico e olhe lá.


Porque as aparências NÃO enganam. Você é o que você veste.

"Posso te fazer uma pergunta indiscreta"?

Lis 



Perguntas indiscretas pra começar, são perguntas que não devem ser feitas.
Abra exceção para sua mãe, seu pai, seu irmão, seu marido, seu melhor amigo. E só. 

Você não sabe qual é a pergunta, mas tenha certeza de que você ficará constrangido ou incomodado. 

Perguntas indiscretas serão sempre pessoais, terão a ver com seus hábitos, seu passado, seus segredos, seus mistérios, algum mal entendido de quem não consegue te entender. 

Perguntas indiscretas nunca são inocentes, elas sempre são feitas com as piores das intenções - principalmente a de testar seus limites. 

Perguntas indiscretas obrigam você a se rebaixar, a se humilhar diante do cara de pau. Perguntas indiscretas fazem de você um submisso.  

Então, se pegaram você nessa, você tem todo direito de não responder. 
Mude o assunto, mude de assento, sei lá. 

Nesses momentos, o silêncio é questão de honra. 

Gente excessivamente teleológica - patologicamente cismada e profissionalmente inconveniente não merece consideração. 

Wicca do Capeta

Os wiccanos geralmente começam como fãs de Harry Potter. Adquirem o costume estranho de abraçar árvores. Usam colar de estrela, jogam RPG e não possuem título de eleitor.  

Quando os wiccanos viram gente, permanece o costume de abraçar árvores e de usar colar de estrela. Eles praticam nudismo na floresta e fedem a maconha incenso. Costumam freqüentar lojas de artigos de macumba pra comprar velinha colorida e outras tralhas. Curtem Loreena McKennitt e veneram um deus chifrudo de bililiu duro que faz uma deusa ficar buchuda, porque os wiccanos confundem criação com procriação. Além disso, eles têm um fetiche estranho pelo sangue menstrual, quase uma inversão da Espermo-gnose. Eca.

Os wiccanos também são conhecidos como bruxos. A maioria das mulheres wiccanas são feias pra cacete e a maioria dos homens wiccanos são da turma do “arco-íris”. Porque os héteros só se infiltram pra comer as raríssimas wiccanas gostosas e liberais nos bacanais rituais.  

Essa galera esquisita do colar de estrela espalha por aí que a Wicca é uma “Antiga Religião” e que o povo pagão curtia rezar pelado.
Mas nós vamos agora penetrar com carinho o Athame da Verdade no Cálice da Ignorância.   

A Wicca é a filha hiponga do Ocultismo do século 19. O cerimonial segue o mesmo padrão inventado por um titio feio chamado Aleister Crowley.

Aleister Crowley, naquela época tão longínqua do século atrasado, já tinha iniciado na putaria bruxaria e no ocultismo outro titio feio chamado Gerald Gardner. Depois de muita viadagem na maionese à base de tantra, bestialidade, escatologia e dorgas na Ordo Templis Orientis, Gardner resolveu inventar a Wicca, achando que todo mundo era idiota. Descristianizou a Golden Dawn (Ordem Hermética da Aurora Dourada) e resolveu apelar pro paganismo, incrementando sua genial ideia com um folclore britânico de virada de século. Um lance menos capetoso pra não dar muito na cara, só pra sua cria não ficar com pecha de bastarda.

A Wicca é uma religião muito simples. Como toda religião do capeta tem um fundo de Thelema, a moral da Wicca é não ter moral nenhuma. “Fazes o que tu queres, será o todo da lei”.

Titio Gardner bem que se esforçou pra tentar tirar o odor satânico da Wicca; disse que sua lenda fabricada era praticada por algumas bruxas medievais que sobreviveram escondidas e passaram adiante a “tradição”. E com o passar do tempo, a Wicca incorporou o feminismo, o homossexualismo e o ecologismo, um tipo de embuste só pra deixá-la mais “politicamente correta”.

Mas apesar de todos os esforços, é muito fácil perceber que a Wicca tem suas raízes profundamente fincadas no Satanismo, a começar pela anarquia e pelo foco no sexo...   

No fim das contas, a diferença da Wicca pro Satanismo é basicamente a posição da estrelinha no cangote dos hereges.



Agora está bem estabelecido que a bruxaria moderna foi formulada no início da década de 50. Uma minoria significativa, contudo, alega que eles pertencem a uma herança tradicional ininterrupta, que veio a eles através de sua própria família do que de qualquer herança social. Estudos desta matéria tem entretanto falhado em prover qualquer prova que sustente tais alegações” (The Encyclopedia of Magic & Witchcraft, p. 206).



"Até a morte é mortal". 

Papo de Músico: Prelúdio ou Ave Maria?


A partitura é simples mas de grande densidade harmônica; o tom dos arpejos vai decrescendo durante quase dois minutos. É a música que eu mais gosto de tocar. 

Mas essa música intriga os leigos, que a confundem com uma das tradicionais Ave Maria’s, aquela do francês Charles Gounod.

Apesar da semelhança harmônica, trata-se de duas composições diferentes. A composição do alemão Johann Sebastian Bach não foi criada com o propósito de ser uma obra religiosa.

O Prelúdio n. 1 é a primeira música de uma compilação chamada “O Cravo Bem Temperado”. Essa obra reúne o total de 48 prelúdios e fugas (Vol. I e Vol. II),  que completam todos os tons musicais existentes. 

A primeira dupla de prelúdio e fuga está em C Maior, a segunda dupla em C Menor; a terceira é em C# Menor, a quarta em C# Menor e assim por diante. O prelúdio n.1 inclusive é uma demonstração objetiva de uma característica ímpar de Bach, o contraponto. Ele criava grandes sequências de modalidades tonais, direcionando a música para uma resolução e ao retorno à tonalidade original. 

Bach não costumava anotar a data em suas partituras, mas é provável que o Prelúdio n. 1 em C Maior tenha sido publicado por volta de 1722; e a Ave Maria de Gounod foi composta muito depois, no ano de 1853. 

A Ave Maria pode até ser considerada uma obra derivada. E derivações de obras e reutilização de melodias era comum até o século XIX na Igreja. O Hinário Luterano é cheio desses casos, por exemplo, o Hino 189, “Exultantes”, derivado do quarto movimento da Nona Sinfonia de Ludwig van Beethoven. 

O prelúdio n. 1 é uma obra linda, e dizer que ele é a "Ave Maria" é um grande erro, além de alterar completamente o seu sentido, mudando a sua razão de existência.


Eclético: Ser ou Não Ser?

Lis 

Quando o Rock nasceu, nos anos 50, os músicos tradicionais do planeta, incluindo Jazzistas e Eruditos se insurgiram contra aquela nova batida de compasso quaternário, tradicionalmente usado em marchas militares.  Era inadmissível que adolescentes da época aceitassem aquele estilo. Era inadmissível que a escala diatônica (o dó-ré-mi) fosse reduzida  uma escala de apenas cinco notas, a pentatônica, usada por dez entre dez músicos de Rock. O Caos estava instaurado. Os críticos musicais da época se perguntaram: “E agora”? 

Passaram-se mais cinquenta anos e o Rock já atingiu o status de gênero musical popular mais ouvido e amado pelo mundo inteiro.  
Assim como cresceu o Rock, cresce o Hip-Hop e o Rap – gêneros considerados pelos mais atrevidos como sucessores do fenômeno Rock. Paralelamente, outros gêneros musicais se inovam ou se fundem, ganham notoriedade, ganham adeptos, giram a indústria, gera capital.

Chegamos ao ponto que as novas tendências musicais surfam nos limites da criação. Uns detonam estruturas clássicas, outros as reproduzem sem dar os créditos, outros ainda afirmam ou desmontam ideologias. Uns pregam a violência, outros combatem. 

Chegamos ao século vinte e um com uma série de fragmentações e pontilhismos que, no campo da música, caracterizam o pós-modernismo. Uma coisa é verdade: estão apagados os limites entre a alta cultura e a cultura popular, entre a manufatura e a alta tecnologia. O momento é o da citação pela citação.

Mas de que lado eu estou?

Todo mundo é um pouco eclético, porque não dá pra ser tão radical a despeito de tanto gênero musical bacana. Mas sempre existe um gênero que agrada mais e um que não agrada. 

O gosto musical está atrelado à personalidade, e não é tão equivocado julgar a pessoa pela música que ela gosta.  

Declarar-se “eclético” pode indicar que a pessoa não liga muito pra música. Ou então, pode ser a maneira mais fácil, rápida e confortável de buscar aceitação nas mais variadas rodas, porque assim a pessoa se exime da responsabilidade de emitir uma opinião, de defender, de pertencer.  

Porque muitas vezes as pessoas não têm uma opinião formada, justamente porque falta base para isso. A desculpa do ecletismo cai bem. Dá deia de que a pessoa não tem “preconceito”, de que está aberta a coisas novas. Estamos em um tempo em que somos obrigados a gostar “de tudo um pouco”, em iguais proporções, e esse discurso soa muito bonito. Evita a fadiga de magoar a sensibilidade do próximo, obedecendo ao discurso politicamente correto. Mas na grande maioria dos casos, esse suposto “senso comum” não faz nenhum sentido, só serve para bagunçar as coisas.

Quando o ecletismo vira ideologia, trazendo a proibição de manifestar preferências ou tecer críticas, aí sim, temos um problema muito sério.

Há quem realmente acredite no próprio ecletismo e o usa como ideologia. Nisso a dita ausência de preconceito é usada para esconder a falta de conceito.
A turma do ecletismo gosta de coisas bem contraditórias; pois não as conhece o suficiente para defendê-las com a mesma fé. E essa turma vem a reboque contra os musicalmente xiitas, usando um vasto repertório de clichês, como se fosse pecado capital dedicar-se exclusivamente a um gênero musical.  

O universo musical é muito rico. Pecado maior do que restringir nossa vida toda a um estilo só, é ter Jazz e Rap na mesma playlist. Pecado maior que ser do Rock ou ser do Funk é colocar no mesmo balaio A-ha e Anitta.

Há músicas maravilhosas em Rock, Rap, Hip-Hop, Jazz, isso ninguém nega. Até o Axé acerta de vez em quando, até o Funk! Por que não? 

Mas você tem que decidir sim, de que lado está. Você tem que saber do que você está gostando. Você tem que saber gostar.

Gostar, estudar e afirmar um gênero musical não é nenhuma paranoia. É coisa dos tempos passados, tempos dos bens duráveis, tempos do compromisso com aquilo que nós consumimos, com o que trazemos para nossa vida.   

A Moral dos Trolls


Piadista ou perverso, o troll habita o subsolo da Asgard internética, e é bem feio.

E apesar de feio, todo troll já foi trollado. Atire a primeira pedra quem nunca trollou, e quem nunca trollou um troll.

Um troll calado é um troll trollado.

Essa história divertida aconteceu conosco. O troll trollado podia continuar a se enveredar pelo mau caminho, mas graças a Deus ele estava aqui vivendo uma vida digna, alimentando-se da postagem nossa de cada dia e tomando religiosamente nossas pílulas de sabedoria, que causavam nele uma purgação exorcista. 


Mandei benzer o computador, só por precaução. Consequentemente o troll também foi bento. Porque a gente consegue pensar no próximo, mesmo que ele seja caso perdido. Amém.

O troll pediu abrigo e bênçãos aqui no blog por uns tempos. Morou aqui. Não dormia, não comia, e eu acho que não era comido, Deus que me perdoe... Ficamos com dó deste miserável. Garantimos a ele uns bons nirvanas narcísicos. De fato, ele foi um troll útil. Todo troll é útil.

E enquanto ele cagava a ideia de que a gente era idiota, e desde o gênesis a gente deixava ele achar que sim, um dia ele foi trollado pelo próprio Blogspot, que canalizou toda aquela diarréia mental pra caixa de spam. Nem li. E nem lerei.   

Troll aqui no blog era novidade, mas a experiência foi frustrante. Esperávamos mais do nosso troll, que era superdotado de um deprimente baixo astral. E de uma ironia bem piegas. Era sofrível. Era um troll trollável. Mas ele bem que se esforçava. Ele chegou a pedir arrego, mas seu demônio não deixava. Haja água benta.

E agora, o máximo que este troll trollado e amordaçado vai obter é uma gostosa gastrite e uma aula de trollagem. Porque a gente é do bem, mas a gente conhece as armadilhas do capeta.  

A gente sabe que, para um bom trollador, meia dúzia de palavra basta. Nem que seja pra falar que o blogueiro não sente o que sente, não vê o que vê, não sabe o que sabe, não é o que é ou é o que não é.
Troll que é troll não fala muito, não enrola, é curto e grosso. 
Troll que é troll não pode jogar pérolas aos bloggers, tem que honrar seu próprio código de conduta. Quem se abaixa demais mostra o que não deve.  

Mais importante do que batalhar por alguma respostinha, pela boa vontade de algum blogueiro mais caridoso, é não deixar a postagem ser mais forte.
Nem que ela seja uma descrição perfeita dos problemas da mãe, da tia, da avó, do chefe, da paranoia, da psicopatia, do cramulhão, da caralhada toda. Na trollagem a gente não vê a cara, e o troll não deveria deixar ver o coração.

Porque troll que é troll odeia ser coitado, não mostra ponto fraco. A gente sabe que ele tem, mas ele tem que saber fingir que não tem. 

Enquanto o troll finge que não tem ponto fraco, a gente finge que ele é “fodão” só pra brincadeira ser mais legal. 
Todo troll de blogger nutre certo respeito pelo blogueiro. Aliás, uma trollagem já é um sinal de respeito, porque ninguém chuta cachorro morto. E troll que é troll tem que pegar desafio. Só assim ele prova pra si mesmo que ninguém é melhor que ele.  

Moral da história: ou o troll tem talento, ou não é troll. Talento garante a oportunidade e a oportunidade faz o troll.
Porque nem todo troll é chato. Chato, qualquer idiota consegue ser. O máximo que um chato consegue é desprezo. E desprezo mata o troll. Copiou?


Paga de troll na internet , mas não paga a internet?
Poser. Some daqui com seus minions.

O Quiliasma do Horror

Com base em estudos do historiador Orlando Fedeli (1933 - 2010)

O apelo do Metal é a rejeição de todas as normas sociais. Especialmente em seus subgêneros sonoridade mais extremas, é a música de rebelião, de esquerda, o extremo lógico da tradição do rock'n'roll. Por conseguinte, este não é um tipo de música que é atraente para pessoas que se encaixam na sociedade, ou vêm de famílias estáveis. É a música das crianças solitárias, dos que não conseguem se adequar, de pessoas que não levam uma vida fácil. E nas idades precoces impressionáveis a ideia da total rejeição de tudo faz sentido. Afinal, quando você cresce em um lar em crise, ou agressivo, ou pobre, ou em torno de abuso de substâncias - se isso é o mundo em que você está vivendo, é natural você rejeitar tudo. 

Eu e minha irmã falecida fomos metaleiros por um longo tempo. Nós frequentávamos eventos underground, pagamos caro por shows de artistas consagrados. Colecionamos discos, pregamos pôsteres na parede, tínhamos o estilo de se vestir. 

Enquanto éramos jovens, quase ninguém nos julgava por isso, porque isso era uma fase que logo passaria.
  
Mas à medida que ficávamos mais velhos, e insistíamos nisso, muitos problemas foram surgindo. E o estilo de vida metal deixou de fazer sentido.

Esse tipo de som e todos os seus símbolos me causaram problemas; A estreita relação do Metal com drogas, com violência, com rebeldia, com pessimismo, com tudo que há de detestável começou me incomodar. Eu era mal interpretado, era mal visto, era evitado, era motivo de piada...  
Mas o motivo da minha apostasia do Heavy Metal é algo mais complexo do que a implicância das pessoas.

Enquanto minha irmã resistia como metaleira, eu doava as minhas camisas de banda, meus acessórios. Vendi os discos que minha irmã não quis, joguei fora os que ninguém quis comprar.

Minha irmã estava profundamente envolvida com satanismo, e depois de um tempo, infelizmente eu a perdi.
Daí eu fui atrás da explicação; por que nenhum outro tipo de música causa esse fanatismo? Se o fanatismo é sintoma de mau uso da razão, então há algo errado com o Metal. 
Há algo muito ruim por trás dessa engenharia, algo que ninguém até hoje teve interesse em contar.

Exceto o historiador católico Orlando Fedeli (falecido em 2010).
O sr. Fedeli escreveu um longo artigo sobre o Rock de uma maneira corajosa e com muita propriedade. Muitos metaleiros inclusive escreveram respostas insultando o trabalho dele.
Até eu fiquei com raiva de tudo que li.
Até eu cheguei a escrever para o sr. Fedeli uma carta cheia de impropérios, palavrões...

Depois fiquei envergonhado. Quando eu entendi o lado obscuro do Metal, minha consciência descansou. Eu escapei dessa 'seita'. E minha irmã, certamente, está no céu. 

Isso é um pouco da minha experiência. 
Vou agora à explicação, na verdade isso é uma versão pasteurizada da explicação do Sr. Fedeli, mas aqui estão as partes mais importantes. 
  
O final do século XX assistiu ao nascimento, ao triunfo e ao desmoronamento rápido de muitas ideologias revolucionárias - do nazismo ao comunismo. Mas uma dessas revoluções continua se mantendo, e tem como propaganda sonora o Heavy Metal.

Essa revolução é derivada do Modernismo; ela impôs uma nova "arte", uma nova moda.
Só pra complementar, o Modernismo idealizava uma sociedade livre de toda coerção de lei, regulamento, disciplina e até de regras de etiqueta. É impossível construir uma sociedade sem essas coisas, mas é isso que o Modernismo queria, sem mais nem menos.

O jovem rockeiro/metaleiro é o ícone dessa idealização. Revoltado, radical, anárquico, ele bota pilha no ideal libertário de seus parentes hippies dos anos 60.

Contra tudo o que é refinado e aristocrático, o rockeiro ostenta a preferência pelo que é sujo, prosaico, baixo, vulgar ou grosseiro. Ele tem orgulho disso, basta observar.

Descaradamente o rockeiro faz apanágio da obscenidade e da depravação. Exige a liberação das drogas, além de sexo livre. Defende taras e perversões.

O rockeiro é o político do erotismo, arauto da bagunça, propugnador da ação sem qualquer sentido. Apóstolo da irracionalidade e do desespero. Rebelde contra a sabedoria e a lei. Na prática, ele quer o absurdo.

O Rock pesado exaltou o fracasso da Arte Moderna: tornou admirável o feio, o nojento e o monstro.
Tudo que funcionaria para organizar a sociedade, formar a cultura e elevar o espírito humano é simplesmente jogado ao chão e pisado pela turma do coturno.

Pior de tudo é que o ódio à autoridade e o amor a rebelião pregado por eles geralmente tem como primeiras vítimas os pais e os professores.
Isso induz o rockeiro a buscar experiências cada vez mais violentas.
É pura rebeldia sem causa, mas sem causa nenhuma. É evidente que tais expressões revelam uma baita incompreensão do mundo.

O Rock veio prometendo apenas frustração, desespero, suicídio, loucura, inferno e nada absoluto, o contrário de outras ideologias totalitárias que ofereciam a esperança de construir um paraíso utópico na terra, sem males nem misérias. É curioso como essa "revolução" que propõe o quiliasma do horror acabou atingindo grande parte do seu objetivo. 

Esperto é quem decide ganhar a vida com isso. Apesar da origem tacanha, hoje em dia o Rock pesado é quase um artigo de luxo. Discos, shows, indumentária, revistas - do rito de passagem à pajelança: sai muito caro se adequar à "tribo". 
Daqui a algumas décadas, o Rock pesado irá se tornar artigo vintage pra galera excêntrica que tem grana sobrando pra gastar. 

Música

A música pode ser considerada, ao mesmo tempo, a arte mais elevada e a mais baixa. A mais elevada, porque ela consegue criar estados de alma que a própria palavra tem dificuldade de expressar.
Entretanto, apesar de atingir os cumes do inefável, a música é também a arte mais baixa: ela atinge os que não têm cultura (os selvagens), os que ainda não têm o uso da razão (crianças) e os que perderam o uso da razão (loucos).
Consta ainda que até os animais são influenciados pela música. É ela a única arte que pode atingi-los, porque o ritmo e os sons melodiosos repercutem favoravelmente no sistema nervoso deles.

Platão dizia, com razão, que uma criança educada a amar boa música tenderia a praticar as virtudes. Porque a arte superior ajuda a educar e sensibilizar os sentidos, consequentemente modelando e refinando o comportamento.
E um dos erros mais grosseiros do Modernismo foi o de recusar a existência da verdade objetiva e querer uma arte que apenas agradasse. Aquilo que simplesmente agrada, divorciando-se da verdade e da virtude, é o vício. Todo vício agrada. E o vício é antítese da racionalidade.

Galera pode pensar o que quiser, mas isso não é um desabafo. Isso também não é um "alerta", todo mundo ouve a música que quiser e faz da vida o que quiser.  
Isso é apenas a verdade. Não é a minha verdade. É a verdade pela lógica. A ideologia do Rock é detestável, e de propósito.  


Cidades são Lugares Deprimentes

Lis


Eu detesto prédios, odeio apartamentos. Eu acho patético um tanto de casa empilhada, cheio de gente encaixotada, sem um mísero quintal com um pé de manga, tendo que se contentar, às vezes, com uma varanda ridícula, com vista privilegiada para o mar de concreto, o leito de asfalto esburacado, o fedor de monóxido de carbono e o ar encardido.

Sem falar dos lixos, e dos xixis e cocôs nem sempre de cachorro nas calçadas.

E ninguém consegue perceber a aberração que isso é!

Não somente a cidade é um lugar depressivo e os prédios terríveis para a sanidade mental do ser humano, mas também os carros estão aí para acabar de matar tudo!

São males desnecessários.

A vida não melhorou nas cidades cheias de prédio e tédio.

O tédio sozinho é suficiente para matar as pessoas, e estava me matando.

O último vislumbre na minha despedida daquela desolação urbana não me sai da memória: Uma fila imensa na BR, contrastando com os campos verdejantes em volta, e os malditos canos de descarga arrotando uma fumaça para fora, sufocando a vida da natureza.

Eu queria dar um basta nessa doideira.

Eu queria poder somar todos os desejos de mudar o mundo, porque todo ser humano quer ou já quis mudar o mundo.

E nós todos juntos salvaríamos os pedestres dos motoristas sem educação, os trabalhadores da escravidão, os cidadãos da paisagem estéril, e resgataríamos o ambiente das mãos de construtoras gananciosas e dos boçais que não conseguem jogar o lixo na lixeira.

A justiça e a vingança seriam feitas, o capim se ergueria, as plantas brotariam, as árvores cresceriam, os passarinhos construiriam seus ninhos, o ar ficaria limpo e todos os dias o céu seria azul.


Mas sabe aquele sentimento de impotência?

Pra quem diz que Rock tem influência de Música Clássica

por Lis e Arne 


Toda construção é feita de tijolos e cimento. 
Mas um barraco no Morro do Papagaio não tem a mesma beleza que a Basílica de Lourdes só por que são feitos do mesmo material.

Todo rosto possui os mesmos elementos. 
Mas o Nando Reis não tem a mesma beleza que o Eric Stoltz só porque ambos tem olhos, orelhas, boca, nariz e cabelo ruivo. 

Toda feijoada é feita basicamente com os mesmos ingredientes. 
Mas a minha feijoada não tem o mesmo sabor, consistência e aroma da feijoada do Bar do Lopes, porque o resultado final depende da ordem e da proporção dos ingredientes.

Na pintura é a mesma coisa. Todas as cores de tinta são obtidas das mesmas cores primárias - azul, amarelo, vermelho. Entretanto, algumas pinturas são grotescas e outras são belíssimas, conforme a ordem das cores e a proporção com que são usadas.

Você reparou que até agora eu falei em proporção e ordem, né? 
Poizé. Diziam os gregos que a beleza, seja material ou impalpável, tem a ver com proporção. 
A beleza vem da harmonia, pela qual a nossa inteligência reconhece seus símbolos. 

E você reparou que eu disse inteligência, né? 
Poizé. A beleza, pra ser verdadeira, precisa ser inteligível. Essa é a razão pela qual a arte é própria do ser racional. Animais não fazem, nem entendem obras de arte. 
E toda obra de arte só é obra de arte se transmitir uma ideia. 

Então. Pra finalizar: Todo tipo de música é feito com as mesmas notas musicais, mas nem por isso todas as músicas são boas. 
Um Dó é um dó, um Sol é um Sol, um Si é um Si. Tecnicamente não temos nenhuma diferença... As mesmas sete notas musicais usadas por Vivaldi são usadas por Yngwie Malmsteen. 

Mas antes de achar que o Malmsteen é o Vivaldi do Rock, siga a lógica dos exemplos supracitados e evite cometer o absurdo de dizer que o cacofônico, grotesco, indecente e irracional Rock absorveu influência direta da Música Clássica. 
Se isso fosse verdade, qualquer música no mundo teria a mesma influência, porque são feitas da mesma coisa. 

Jamais, repito, JAMAIS Associe Rock à Música Clássica. 
A sua casa é diferente do Palácio de Versailles, apesar de ambos serem feitos de alvenaria. 


"Eu vou ferrar com sua reputação"

por Lis


A briga começou por que a metaleira confundiu a palavra ÉTICOS com ÉTNICOS e cismou que minha irmã era racista.

A metaleira xingou minha irmã de tudo enquanto é jeito e com todos os palavrões possíveis, mas a ruivinha não desceu do salto hora nenhuma.
Na verdade, ela custou sacar que aquela conversa era uma briga. Ela levou a sério e ainda tentou apaziguar as coisas.
Tadinha.
A metaleira por fim disse: "Eu sou muito influente na cena e eu vou ferrar com sua reputação".

Então. Difamar minha irmã parecia ser a única coisa que essa metaleira tinha pra fazer na vida. Porque minha irmã enfrentou anos e anos de problemas com pessoas desconhecidas, que vinham provocá-la nas redes sociais, vinham xingá-la, vinham debochar dela. Fora isso, teve gente que simplesmente parou de conversar com ela. Parou de cumprimentá-la. Excluiu ela do Orkut e depois do Facebook.

Nós lhe ensinamos várias maneiras de se defender, mas ela preferiu utilizar a tática do silêncio, e não poderia ter sido melhor. Genial.

O silêncio de Lille não era covardia nem fraqueza. Nem sinal de que a metaleira havia vencido a guerra.

Na verdade, a metaleira perdeu: 
1- levou por muito tempo um problema pessoal. 
2- Revelou ter uma estrutura emocional fraca: levou o problema pra quem não tinha nada a ver com isso.
3- Era a contradição em pessoa: dizia ser importante e influente, mas se submeteu a uma anônima qualquer.

Coisas parecidas acontecem conosco, com você, com sua tia, com sua vovó. 

Moral 1 da história: ninguém e nada do que disserem a seu respeito poderá diminuir o seu real valor. 

Moral 2 da história: você sabe quando está ficando importante quando começam a falar mal de você.

Moral 3 da história: não é o que as pessoas fazem que te prejudica; é a SUA REAÇÃO.

Não se atiram pedras em árvores sem fruto; toda tentativa de apedrejamento visa sempre derrubar os frutos.
Inocente ignorância dos apedrejadores, porque, mesmo conseguindo o feito, se esquecem de que os frutos caídos no chão experimentarão o tempo e a decomposição e voltarão a frutificar, de uma ou de outra maneira, pois cada semente dá origem à essência interior que carrega.

Já as pedras caídas no chão permanecerão pedras, e as mãos que as atiraram terminarão vazias, tão vazias quanto o coração e a alma que lhes ativaram o movimento.


A Opressão do Batom Vermelho

Por Lis 
Almoçamos num restaurante ontem. 
Eu gosto de restaurantes. 
Mas como aconteceu, nunca aconteceu. Não volto lá nunca mais.  

Eu reparei que muitos homens me observaram de um jeito estranho, meio hostil, meio sei lá. As mulheres também, os garçons, até algumas crianças. 

Eu juro, não era impressão minha.
Eu tinha certeza de que ontem eu não era eu. 

Eu me deixei em casa; quem saiu é alguém que ninguém gostaria de ser. 
Ontem eu era um tanto de significados, um tanto de coisas objetas e abjetas. 
Ontem eu era apenas uma boca.
Uma boca non grata... num restaurante.
Representando apetites inapropriados para a ocasião. 

Eu me contrariei, me sabotei, me traí. Sem querer.  

Até perdi o apetite. Desejei muita gastrite e indigestão. Desejei algumas mortes. 
Mas sabe aquele sentimento de impotência? 

Então. Prefiro evitar a fadiga: depois de ontem, batom vermelho nunca mais. 


Assombração não sabe pra quem aparece...

É que eu confio desconfiando, sabe? 

E Assombração nem desconfia que eu desconfio. 

Eu confio muito na minha própria desconfiança. 
Nunca errei. 
Sei que Assombração sempre aparece. 

Assombração confia muito em si mesma, mas sempre erra. 
Não sabe pra quem aparece, e nem desconfia que apareceu, quando tentou ganhar logo a minha confiança.  

Viajados e Viajantes

por Lis 


Particularmente, eu não gosto de viajar. E isso não tem nada a ver com medo de avião, ou da BR 381, nem com preguiça, problemas em fazer as necessidades fora de casa, etc. 
Se eu tiver de ir, sem dúvida parte mais legal do passeio será a volta. 

Porque eu comecei muito cedo a vida de viajante, já morei em vários lugares, e em quatro países diferentes. Eu não me lembro de muita coisa de antes da vida no Brasil, porque eu era criança. E é meio triste não ter nada pra falar de uma infância nômade, sem histórias, sem amizades, sem vínculos. 

Enfim. 

Tem gente que diz que viajar enriquece o intelecto, amadurece, abre a mente
Concordo, mas isso depende da pessoa que vai, não do destino. Entre aqueles que vão, estão os viajados e os viajantes. 

Os viajados são deslumbrados e gostam de luxo. Adoram ostentação. Acham que são refinados, cultos e respeitáveis só por terem pisado na Europa e acham que a Europa é o lugar mais perfeito do mundo. Quem disse que eles querem saber de outro continente? Necas. Aliás, eles não querem saber de nada, exceto da impressão que vão causar quando postarem as fotos das viagens nas redes sociais. 

Por serem deslumbrados, eles são os únicos que conseguiriam voltar para casa piores, mesmo se rodassem o mundo inteiro. 
Pois eles são acometidos por um terrível complexo de inferioridade quando tem contato com outras culturas. Adoram denegrir a imagem do país de nascença, e ainda acham que tem autoridade pra fazer isso, só porque conhecem "lá fora". Pior, os viajados acham que criticar o próprio país garantirá a simpatia do estrangeiro. 

Mas os viajantes são outra casta de gente - obviamente o contrário dos viajados. São pessoas que enfrentaram os próprios medos e limitações. Sabem se virar; não temem o novo e estão sempre prontos para o que der e vier. 

Depois de ter contato com outras culturas, essas pessoas acabam desenvolvendo uma apreciação profunda pela vida. 
Os viajantes conseguem enxergar a beleza em volta, nos detalhes, nos aromas, nas cores, nos costumes. São pessoas simples que possuem uma visão bem ampla do comportamento humano. São mais tolerantes e tendem a interpretar os fatos sem moralizações, sem emitir juízos maniqueístas de valor, pois sabem que certo e errado, bonito e feio é questão de latitude e longitude. E mesmo presenciando tanta diversidade, eles ainda são capazes de reconhecer que os humanos são os mesmos em todo lugar, são igualmente complexos e dignos de respeito.  

Como eu disse, eu só não gosto de viajar por excesso, não por falta (não sendo isso um privilégio, já que não foi uma escolha minha).

Mas quem gosta, já conhece o mantra: 

"Viajar é a única coisa que você compra que te faz mais rico". 







Elegância é...

por Lis 

Eu já disse que eu gosto das pessoas, e que gosto de observar as pessoas. Talvez seja influência do meu irmão quase psicólogo, da minha irmã transgressora, talvez seja herança do caráter detalhista e perfeccionista da minha mãe, eu não sei. Eu sei que isso é tão divertido quanto resolver uma charada, ou brincar de jogo dos sete erros. 

Então. 
Eu pensava que o conceito de elegância era restrito ao modo de se vestir, mas eu descobri que vai muito além. Elegância é uma característica complexa, muito difícil de definir em poucas palavras...

Existem bilhões de pessoas no mundo; seria bom se as pessoas elegantes fossem maioria, mas infelizmente elas são raras.
E todo mundo pode pensar que a elegância é coisa de gente fresca e metida, só que não: pessoas elegantes estão espalhadas pelo mundo inteiro, em toda cor, crença, classe social e orientação sexual.

Você conhece alguém assim?

Pois eu estou falando daquelas pessoas bem educadas, que falam baixinho, que gesticulam pouco, que não ficam pegando nas coisas, não esbarram em ninguém e não apontam para os outros. Estou falando daquelas pessoas que, quando se movem, não fazem nem barulho...

Estou falando daquelas pessoas que não invadem o espaço alheio, já que conhecem muito bem os próprios limites... Daquelas que não constrangem, não irritam, não zombam. Daquelas que não desperdiçam palavras, que não questionam nem afirmam qualquer coisa, porque sabem como, quando e por que questionar ou afirmar.

Estou falando daquelas que falam pouco, ouvem o dobro do que falam e pensam o triplo do que ouvem.  

Estou falando daquelas pessoas que se vestem com modéstia, que sabem o que, quando e onde mostrar ou esconder. Estou falando daquelas que não jogam lixo no chão. Não jogue lixo no chão, seu boçal.  Estou falando daquelas que sabem usar as palavrinhas mágicas, aquelas que a gente aprende na infância e depois esquece por falta de paciência ou por conveniência (dependendo do lugar, ser bem-educado é o mesmo que ser trouxa).

...E daquelas que sabem ouvir... Hein, já falei isso? Ah, mas é tão importante!

Eu quase me esqueço de citar aquelas pessoas que sabem olhar também. Um olhar elegante não é revelador, é misterioso e ao mesmo tempo, confortável! Pessoas elegantes causam frisson, de tão respeitáveis que são. E olha só, as pessoas elegantes não fazem questão de ser assim; Parece que elas nascem sabendo que a pretensão não é uma coisa elegante, é arrogante. 
Elas são naturais, elas fluem, elas se ajustam. São água mole que fura qualquer pedra dura.

As pessoas elegantes são tão simples que são até complicadas! Pessoas assim são muita coisa. Pessoas assim enfeitam a vida. A gente chega até duvidar de que elas sejam humanas...  

Hei, você que leu isto e ficou aí se analisando e até cogitando estudar uns manuais de etiqueta ou dicas de moda: não quero te desanimar. A elegância é difícil de adquirir. Pelo que eu constatei, a elegância depende da sensibilidade e do nível de autoconhecimento; por isso pode ser considerado um parâmetro de beleza. A maioria das características de uma pessoa elegante não é adquirida, é inata. Desse modo, ou você é elegante ou não é.