A Opressão do Batom Vermelho

Por Lis 
Almoçamos num restaurante ontem. 
Eu gosto de restaurantes. 
Mas como aconteceu, nunca aconteceu. Não volto lá nunca mais.  

Eu reparei que muitos homens me observaram de um jeito estranho, meio hostil, meio sei lá. As mulheres também, os garçons, até algumas crianças. 

Eu juro, não era impressão minha.
Eu tinha certeza de que ontem eu não era eu. 

Eu me deixei em casa; quem saiu é alguém que ninguém gostaria de ser. 
Ontem eu era um tanto de significados, um tanto de coisas objetas e abjetas. 
Ontem eu era apenas uma boca.
Uma boca non grata... num restaurante.
Representando apetites inapropriados para a ocasião. 

Eu me contrariei, me sabotei, me traí. Sem querer.  

Até perdi o apetite. Desejei muita gastrite e indigestão. Desejei algumas mortes. 
Mas sabe aquele sentimento de impotência? 

Então. Prefiro evitar a fadiga: depois de ontem, batom vermelho nunca mais.