A Tribo dos Remédios


A vontade de ser diferente já esgotou todas as possibilidades de esquisitices no vestuário e nos modos, e agora está virando doença. Literalmente. A última onda é ter uma doença de estimação, de preferência um distúrbio de humor. Esse tipo de comportamento é típico daquela gente que sente a necessidade confusa de ter uma tribo pra ser diferentão, e já não tem mais idade pro Rock, não tem paciência pro veganismo, não tem inteligência pra ser nerd, não tem grana pra ser Hipster e tem preguiça demais pra ser Fitness.

É por isso que alguns transtornos psiquiátricos vem adquirindo certo glamour. Pelo menos é isso que está parecendo. Tem gente querendo ter alguma doença pra finalmente remediar a fadiga de ser tribocondríaco hipocondríaco e conquistar um laudo médico atestando alguma doença particularidade.   

Ter alguma fobia ou ansiedade social é meio que chique, praticamente um indicativo de que a pessoa tem um tempo e espaço só pra si e que pode ter o luxo de não ser incomodada. Vamo combinar, gente que rala e estuda a semana inteira não tem tempo pra fobia social nenhuma, é obrigado aguentar o tranco na marra e ser cascudo se quiser sobreviver, mas deixa pra lá.   

O tal do Transtorno Bipolar já virou desculpa pra justificar a falta de bom senso, de limite e responsabilidade. O portador pode meter o louco à vontade, já que todo mundo fica sabendo de cor e salteado que ele é uma bomba-relógio.

Ter uma depressão, então, poxa vida, já é quase poético.  

Além disso tudo, o nível do transtorno, os tipos e miligramas de remédio, as restrições e outros tantos melindres necessários para a manutenção (e frescuras) de uma vida delicada, agora representam mais exclusividade do que as linhas da impressão digital. 

Pior ainda é quando pessoas assim se encontram: ficam discutindo quem é assim a mais tempo, quem toma a dose maior de remédio, quem passou o maior perrengue, quem tem mais probleminhas e pode-não-podes.  

Já está me dando calos no tímpano quando escuto alguém falar dos sintomas de Depressão, TOC, Síndrome do Pânico, ou Transtorno Bipolar como se falassem das peripécias de algum animal de estimação. Gente, me ajuda aí!

Tipo, todo meu respeito às pessoas que realmente tiram alguma coisa positiva de suas doenças e tal, mas essa tribo dos remédios faz meu detector de pilantragem apitar alto. É óbvio que gente desse tipo quer tirar vantagem ao ficar anunciando seus transtornos - quer ganhar mais atenção, aliviar algum sentimento de culpa ou quer fazer os outros de trouxa.

Não to afirmando que algumas pessoas fingem ter doenças. Só estou dizendo que usar a própria doença pra chamar atenção por pura diversão é uma maneira bem doentia de viver.