A lição do Jon


Eu já pegava as chaves pra sair e veio o Arne: - Vai passear com tia Lis, Jon. 

E nem deu tempo de pensar; Jon apareceu empurrando a bicicletinha, cheio de expectativa; desde algum dia por aí ele aprendeu que passear significa bicicleta, e não seria naquele minuto que ele iria desaprender, né... 

Nem falei nada, porque o Arne andava meio cismado comigo, me percebendo distante demais dos seus filhos. Ele tinha razão, mas... 

Saí com aquele frio na barriga, imaginando todos os riscos que eu deveria evitar. Eu só tinha que ir ali ao supermercado, mas nunca antes na história da minha vida eu passeei sozinha com uma criança.

E foi gratificante a oportunidade de ficar inteiramente reponsável pelo Jon. Foi gratificante ver que ele ficou bastante alegrinho por passear comigo. Foi gratificante ver o quanto ele gosta de mim e que eu finalmente havia conquistado a confiança dele.

Eu tinha dúvidas se existia mesmo alguma conexão entre mim e meu sobrinho. Eu já tinha percebido que ele queria se aproximar de mim; Várias vezes eu abri a porta do meu quarto e dei de cara com um pinguinho de menino curioso pelas músicas que eu ouço, mas várias vezes ele saiu correndo, com medo. Véi... era angustiante. Será que é alguma coisa com ele, ou será que o problema sou eu?

Claro que sou eu: o Jonzinho estava sendo simplesmente o reflexo de uma pessoa fechada demais, que só fica isolada no quarto. 

Agora to aqui rindo e lembrando do Jon na seção de refrigerantes, encostando o dedinho em cada garrafa, dizendo: gananá, gananá, gananá... A porta do quarto está aberta. E o Jon tá logo ali brincando de Lego.