Cidades são Lugares Deprimentes

Lis


Eu detesto prédios, odeio apartamentos. Eu acho patético um tanto de casa empilhada, cheio de gente encaixotada, sem um mísero quintal com um pé de manga, tendo que se contentar, às vezes, com uma varanda ridícula, com vista privilegiada para o mar de concreto, o leito de asfalto esburacado, o fedor de monóxido de carbono e o ar encardido.

Sem falar dos lixos, e dos xixis e cocôs nem sempre de cachorro nas calçadas.

E ninguém consegue perceber a aberração que isso é!

Não somente a cidade é um lugar depressivo e os prédios terríveis para a sanidade mental do ser humano, mas também os carros estão aí para acabar de matar tudo!

São males desnecessários.

A vida não melhorou nas cidades cheias de prédio e tédio.

O tédio sozinho é suficiente para matar as pessoas, e estava me matando.

O último vislumbre na minha despedida daquela desolação urbana não me sai da memória: Uma fila imensa na BR, contrastando com os campos verdejantes em volta, e os malditos canos de descarga arrotando uma fumaça para fora, sufocando a vida da natureza.

Eu queria dar um basta nessa doideira.

Eu queria poder somar todos os desejos de mudar o mundo, porque todo ser humano quer ou já quis mudar o mundo.

E nós todos juntos salvaríamos os pedestres dos motoristas sem educação, os trabalhadores da escravidão, os cidadãos da paisagem estéril, e resgataríamos o ambiente das mãos de construtoras gananciosas e dos boçais que não conseguem jogar o lixo na lixeira.

A justiça e a vingança seriam feitas, o capim se ergueria, as plantas brotariam, as árvores cresceriam, os passarinhos construiriam seus ninhos, o ar ficaria limpo e todos os dias o céu seria azul.


Mas sabe aquele sentimento de impotência?