Eclético: Ser ou Não Ser?

Lis 

Quando o Rock nasceu, nos anos 50, os músicos tradicionais do planeta, incluindo Jazzistas e Eruditos se insurgiram contra aquela nova batida de compasso quaternário, tradicionalmente usado em marchas militares.  Era inadmissível que adolescentes da época aceitassem aquele estilo. Era inadmissível que a escala diatônica (o dó-ré-mi) fosse reduzida  uma escala de apenas cinco notas, a pentatônica, usada por dez entre dez músicos de Rock. O Caos estava instaurado. Os críticos musicais da época se perguntaram: “E agora”? 

Passaram-se mais cinquenta anos e o Rock já atingiu o status de gênero musical popular mais ouvido e amado pelo mundo inteiro.  
Assim como cresceu o Rock, cresce o Hip-Hop e o Rap – gêneros considerados pelos mais atrevidos como sucessores do fenômeno Rock. Paralelamente, outros gêneros musicais se inovam ou se fundem, ganham notoriedade, ganham adeptos, giram a indústria, gera capital.

Chegamos ao ponto que as novas tendências musicais surfam nos limites da criação. Uns detonam estruturas clássicas, outros as reproduzem sem dar os créditos, outros ainda afirmam ou desmontam ideologias. Uns pregam a violência, outros combatem. 

Chegamos ao século vinte e um com uma série de fragmentações e pontilhismos que, no campo da música, caracterizam o pós-modernismo. Uma coisa é verdade: estão apagados os limites entre a alta cultura e a cultura popular, entre a manufatura e a alta tecnologia. O momento é o da citação pela citação.

Mas de que lado eu estou?

Todo mundo é um pouco eclético, porque não dá pra ser tão radical a despeito de tanto gênero musical bacana. Mas sempre existe um gênero que agrada mais e um que não agrada. 

O gosto musical está atrelado à personalidade, e não é tão equivocado julgar a pessoa pela música que ela gosta.  

Declarar-se “eclético” pode indicar que a pessoa não liga muito pra música. Ou então, pode ser a maneira mais fácil, rápida e confortável de buscar aceitação nas mais variadas rodas, porque assim a pessoa se exime da responsabilidade de emitir uma opinião, de defender, de pertencer.  

Porque muitas vezes as pessoas não têm uma opinião formada, justamente porque falta base para isso. A desculpa do ecletismo cai bem. Dá deia de que a pessoa não tem “preconceito”, de que está aberta a coisas novas. Estamos em um tempo em que somos obrigados a gostar “de tudo um pouco”, em iguais proporções, e esse discurso soa muito bonito. Evita a fadiga de magoar a sensibilidade do próximo, obedecendo ao discurso politicamente correto. Mas na grande maioria dos casos, esse suposto “senso comum” não faz nenhum sentido, só serve para bagunçar as coisas.

Quando o ecletismo vira ideologia, trazendo a proibição de manifestar preferências ou tecer críticas, aí sim, temos um problema muito sério.

Há quem realmente acredite no próprio ecletismo e o usa como ideologia. Nisso a dita ausência de preconceito é usada para esconder a falta de conceito.
A turma do ecletismo gosta de coisas bem contraditórias; pois não as conhece o suficiente para defendê-las com a mesma fé. E essa turma vem a reboque contra os musicalmente xiitas, usando um vasto repertório de clichês, como se fosse pecado capital dedicar-se exclusivamente a um gênero musical.  

O universo musical é muito rico. Pecado maior do que restringir nossa vida toda a um estilo só, é ter Jazz e Rap na mesma playlist. Pecado maior que ser do Rock ou ser do Funk é colocar no mesmo balaio A-ha e Anitta.

Há músicas maravilhosas em Rock, Rap, Hip-Hop, Jazz, isso ninguém nega. Até o Axé acerta de vez em quando, até o Funk! Por que não? 

Mas você tem que decidir sim, de que lado está. Você tem que saber do que você está gostando. Você tem que saber gostar.

Gostar, estudar e afirmar um gênero musical não é nenhuma paranoia. É coisa dos tempos passados, tempos dos bens duráveis, tempos do compromisso com aquilo que nós consumimos, com o que trazemos para nossa vida.