O Quiliasma do Horror

Com base em estudos do historiador Orlando Fedeli (1933 - 2010)

O apelo do Metal é a rejeição de todas as normas sociais. Especialmente em seus subgêneros sonoridade mais extremas, é a música de rebelião, de esquerda, o extremo lógico da tradição do rock'n'roll. Por conseguinte, este não é um tipo de música que é atraente para pessoas que se encaixam na sociedade, ou vêm de famílias estáveis. É a música das crianças solitárias, dos que não conseguem se adequar, de pessoas que não levam uma vida fácil. E nas idades precoces impressionáveis a ideia da total rejeição de tudo faz sentido. Afinal, quando você cresce em um lar em crise, ou agressivo, ou pobre, ou em torno de abuso de substâncias - se isso é o mundo em que você está vivendo, é natural você rejeitar tudo. 

Eu e minha irmã falecida fomos metaleiros por um longo tempo. Nós frequentávamos eventos underground, pagamos caro por shows de artistas consagrados. Colecionamos discos, pregamos pôsteres na parede, tínhamos o estilo de se vestir. 

Enquanto éramos jovens, quase ninguém nos julgava por isso, porque isso era uma fase que logo passaria.
  
Mas à medida que ficávamos mais velhos, e insistíamos nisso, muitos problemas foram surgindo. E o estilo de vida metal deixou de fazer sentido.

Esse tipo de som e todos os seus símbolos me causaram problemas; A estreita relação do Metal com drogas, com violência, com rebeldia, com pessimismo, com tudo que há de detestável começou me incomodar. Eu era mal interpretado, era mal visto, era evitado, era motivo de piada...  
Mas o motivo da minha apostasia do Heavy Metal é algo mais complexo do que a implicância das pessoas.

Enquanto minha irmã resistia como metaleira, eu doava as minhas camisas de banda, meus acessórios. Vendi os discos que minha irmã não quis, joguei fora os que ninguém quis comprar.

Minha irmã estava profundamente envolvida com satanismo, e depois de um tempo, infelizmente eu a perdi.
Daí eu fui atrás da explicação; por que nenhum outro tipo de música causa esse fanatismo? Se o fanatismo é sintoma de mau uso da razão, então há algo errado com o Metal. 
Há algo muito ruim por trás dessa engenharia, algo que ninguém até hoje teve interesse em contar.

Exceto o historiador católico Orlando Fedeli (falecido em 2010).
O sr. Fedeli escreveu um longo artigo sobre o Rock de uma maneira corajosa e com muita propriedade. Muitos metaleiros inclusive escreveram respostas insultando o trabalho dele.
Até eu fiquei com raiva de tudo que li.
Até eu cheguei a escrever para o sr. Fedeli uma carta cheia de impropérios, palavrões...

Depois fiquei envergonhado. Quando eu entendi o lado obscuro do Metal, minha consciência descansou. Eu escapei dessa 'seita'. E minha irmã, certamente, está no céu. 

Isso é um pouco da minha experiência. 
Vou agora à explicação, na verdade isso é uma versão pasteurizada da explicação do Sr. Fedeli, mas aqui estão as partes mais importantes. 
  
O final do século XX assistiu ao nascimento, ao triunfo e ao desmoronamento rápido de muitas ideologias revolucionárias - do nazismo ao comunismo. Mas uma dessas revoluções continua se mantendo, e tem como propaganda sonora o Heavy Metal.

Essa revolução é derivada do Modernismo; ela impôs uma nova "arte", uma nova moda.
Só pra complementar, o Modernismo idealizava uma sociedade livre de toda coerção de lei, regulamento, disciplina e até de regras de etiqueta. É impossível construir uma sociedade sem essas coisas, mas é isso que o Modernismo queria, sem mais nem menos.

O jovem rockeiro/metaleiro é o ícone dessa idealização. Revoltado, radical, anárquico, ele bota pilha no ideal libertário de seus parentes hippies dos anos 60.

Contra tudo o que é refinado e aristocrático, o rockeiro ostenta a preferência pelo que é sujo, prosaico, baixo, vulgar ou grosseiro. Ele tem orgulho disso, basta observar.

Descaradamente o rockeiro faz apanágio da obscenidade e da depravação. Exige a liberação das drogas, além de sexo livre. Defende taras e perversões.

O rockeiro é o político do erotismo, arauto da bagunça, propugnador da ação sem qualquer sentido. Apóstolo da irracionalidade e do desespero. Rebelde contra a sabedoria e a lei. Na prática, ele quer o absurdo.

O Rock pesado exaltou o fracasso da Arte Moderna: tornou admirável o feio, o nojento e o monstro.
Tudo que funcionaria para organizar a sociedade, formar a cultura e elevar o espírito humano é simplesmente jogado ao chão e pisado pela turma do coturno.

Pior de tudo é que o ódio à autoridade e o amor a rebelião pregado por eles geralmente tem como primeiras vítimas os pais e os professores.
Isso induz o rockeiro a buscar experiências cada vez mais violentas.
É pura rebeldia sem causa, mas sem causa nenhuma. É evidente que tais expressões revelam uma baita incompreensão do mundo.

O Rock veio prometendo apenas frustração, desespero, suicídio, loucura, inferno e nada absoluto, o contrário de outras ideologias totalitárias que ofereciam a esperança de construir um paraíso utópico na terra, sem males nem misérias. É curioso como essa "revolução" que propõe o quiliasma do horror acabou atingindo grande parte do seu objetivo. 

Esperto é quem decide ganhar a vida com isso. Apesar da origem tacanha, hoje em dia o Rock pesado é quase um artigo de luxo. Discos, shows, indumentária, revistas - do rito de passagem à pajelança: sai muito caro se adequar à "tribo". 
Daqui a algumas décadas, o Rock pesado irá se tornar artigo vintage pra galera excêntrica que tem grana sobrando pra gastar. 

Música

A música pode ser considerada, ao mesmo tempo, a arte mais elevada e a mais baixa. A mais elevada, porque ela consegue criar estados de alma que a própria palavra tem dificuldade de expressar.
Entretanto, apesar de atingir os cumes do inefável, a música é também a arte mais baixa: ela atinge os que não têm cultura (os selvagens), os que ainda não têm o uso da razão (crianças) e os que perderam o uso da razão (loucos).
Consta ainda que até os animais são influenciados pela música. É ela a única arte que pode atingi-los, porque o ritmo e os sons melodiosos repercutem favoravelmente no sistema nervoso deles.

Platão dizia, com razão, que uma criança educada a amar boa música tenderia a praticar as virtudes. Porque a arte superior ajuda a educar e sensibilizar os sentidos, consequentemente modelando e refinando o comportamento.
E um dos erros mais grosseiros do Modernismo foi o de recusar a existência da verdade objetiva e querer uma arte que apenas agradasse. Aquilo que simplesmente agrada, divorciando-se da verdade e da virtude, é o vício. Todo vício agrada. E o vício é antítese da racionalidade.

Galera pode pensar o que quiser, mas isso não é um desabafo. Isso também não é um "alerta", todo mundo ouve a música que quiser e faz da vida o que quiser.  
Isso é apenas a verdade. Não é a minha verdade. É a verdade pela lógica. A ideologia do Rock é detestável, e de propósito.