Explicando o Privilégio Branco

Disse algum gênio por aí: 
"Privilégio branco é você ter essa cara e ainda assim te acharem lindo". 

"Privilégio Branco" significa VANTAGEM EM SER BRANCO.

Aí você me pergunta: que vantagem?
Faz um teste: se você não enxerga vantagem, tente enxergar alguma desvantagem então.

Consegue?

E não vem com esse papo de que branco fica vermelho no sol.
Não ter desvantagem já é uma vantagem. Começa por aí.

A vida é difícil pra todo mundo, é óbvio.

Mas, no meio dessa obrigação universal de ter que ralar pra sobreviver e do medo universal do amanhã, os brancos ainda tem a vantagem de poder curtir as delícias de ser a etnia mais paparicada do planeta.

Ser branco é maravilhoso, sabe por quê?

Porque foi determinado que o humano de pele branca é a medida de todas as coisas, é sempre a referência, é sempre o melhor, o mais isso, o mais aquilo. Sempre positivo.

Mesmo sendo um dos menores grupos étnicos do mundo, de repente o mundo inteiro deveria se encaixar nos seus moldes.

Não tem muito tempo que isso foi determinado, se pensarmos na longa história da humanidade, nos milhares de anos que estamos aqui; mesmo assim, apenas meio milênio de racismo foi suficiente para resultar nesse sólido esquema de privilégio que desfrutamos hoje - benéfico pra nós, perigoso para outros, embora não tenhamos consciência disso.

Ele não sente que tem privilégio da mesma forma que não sente que tem olhos azuis, pois já nasceu com eles. 
Ele não escolheu ter privilégios da mesma forma que não escolheu ter olhos azuis. 
E gente como ele tem que entender que os outros não escolhem nascer diferentes, nem devem ser punidos por isso. 

E ninguém nos enche o saco, a gente não tem que ficar muito preocupado com o que os outros vão pensar da gente, ou se vão nos aceitar. A gente não precisa ter vergonha de nós mesmos. Os estereótipos que recebemos não mexem com nosso caráter.

Ninguém fala que branco fede. Já ouviram alguém falar isso? Pois é.

Ninguém esconde o celular quando um branco passa ao lado. Seguranças de shopping não perseguem brancos. Brancas não precisam ter medo de abrir a bolsa em lojas, porque ninguém vai imaginar que uma branca vai praticar furto. Brancos podem entrar de bermudas e chinelo em qualquer estabelecimento, porque ninguém vai pensar que ele é marginal.

Os amores de meninas como essas nunca terão vergonha de apresentá-las à família. 
Meninas como essas sempre terão amores, aliás. 

As pessoas sempre vão ter a impressão de que somos inteligentes, ricos, refinados, ou confiáveis, honestos, bons...
O resultado disso é paz em nosso alvo existir sob o sol da liberdade.

O ser humano é muito simbólico, e torno dizer, a simbologia que envolve o humano branco é muito positiva.
Nem todo branco é bonito, mas é bonito ser branco.
Estamos cercados de boas representações, boas referências.

Quem é que não vai querer se parecer inteligente, honesto, rico e fino logo de cara, sem tem que provar nada pra ninguém, sem ter que fazer esforço algum?

Nenhum professor diria que esses meninos precisam cortar ou prender os cabelos para que continuem frequentando a escola.  

É legal, estimulante, é excitante ser um descendente dos "construtores de tudo que existe no mundo", mesmo que isso seja um uma mentira histórica escabrosa.

Tem até uma teoria new age que fala que nós somos extraterrestres. A avançada raça nórdica que veio das Plêiades. Somos tão cultuados que essas viagens na maionese a respeito de nós existem, acredite se quiser. 

Ninguém nunca criticaria esta senhora por ter o ventre branco demais. 

Você provavelmente sabe muito sobre a Europa; você sabe que a Europa é um continente cheio de países - você sabe que a Alemanha é diferente de Portugal, que é diferente da França, que é diferente da Suécia, talvez você saberia até mesmo identificar de cara um turista de algum desses países; você sabe o mínimo da história das guerras, das pestes, das fomes, das revoluções; você provavelmente aprecia a culinária de alguns países europeus, sabe quais países fabricam bons queijos, massas ou vinhos; você pode facilmente citar alguns escritores europeus; você concordará se disserem que os europeus levam a cultura a sério; você ouve dizer que alguma coisa é europeia, então você tem uma boa impressão: Se é europeu é bom.

Essa jovem não precisa se preocupar em neutralizar suas características para evitar ser criticada. 

Mas o mundo é muito grande, e muito rico. A Europa é apenas um pedacinho.

Talvez você também conheça alguma coisa da Ásia, graças à febre de seriados e idols coreanos, ou por causa da pandemia de Covid-19 que obrigou a China e o mundo a fazerem campanha contra a xenofobia, ou por causa da tecnologia e da educação do povo japonês...

Talvez também você saiba que os Maias, Incas e Astecas não foram tudo a mesma coisa e que aqui no Brasil existem várias tribos indígenas diferentes... Talvez você saiba quem são os aborígenes australianos, talvez você conheça os melanésios loiros de pele escura.

E com sorte você sabe que a África é um continente, mesmo que este continente tenha 54 países, quatro a mais que a Europa.

Mas quem liga?

Ele não corre o risco de ser rejeitado em entrevistas de emprego por ser branco.  

Ninguém se importa com a história, cultura ou com as virtudes das outras etnias.

Tudo que sabemos sobre as outras etnias, sobretudo africanas, foi dita pelos brancos, como se as outras etnias fossem incapazes de falar por si. Como se elas não tivessem aliás, nada pra dizer.

Pior, nós acreditamos que essas outras etnias não tem nada e nunca fizeram nada relevante, só ficaram esperando pela salvação dos colonos brancos.

Temos uma noção muito pasteurizada e estereotipada sobre a ancestralidade das etnias escuras, enquanto alimentamos fantasias bastante elaboradas a respeito dos vikings, por exemplo.

Ninguém nunca vai apedrejar um praticante de neopaganismo Asatru. 
Macumbeiros, satanistas, bruxos imundos?
De jeito nenhum, respeitem a ancestralidade europeia.  

Então. Privilégio branco, ou vantagem em ser branco é isso: representar o que dizem ser o lado bom, bonito, inteligente e cobiçado da vida.

É importante reconhecer nosso privilégio - exercitar nossa empatia; Ser uma pessoa decente não é questão política.

Temos o dever de ajudar acabar com o racismo, a ideologia perversa que gera desprezo e indiferença, que gera paranoia, que gera violência, que fere e condena pessoas inocentes.

Reconhecer nosso privilégio ajuda entender que os problemas das outras etnias NÃO É VITIMISMO.

Não temos o direito de arbitrar sobre uma realidade que não conhecemos. Não fazemos ideia de como deve ser a vida sem todas as vantagens que desfrutamos desde o nosso nascimento. Não fazemos ideia de como é viver sendo considerado errado, feio, fedido, inadequado; não fazemos ideia de como é ser julgado e maltratado por algo que não escolhemos e não temos controle, como as nossas características físicas.

Negar o privilégio branco é fácil.

Mas pergunte a um branco se ele queria ser de outra cor.