Lis
Vamos pensar na cigarra: ela é feia, desagradável e desinteressante.
Ninguém ou quase ninguém gosta dela;
É um bicho que fica anos debaixo da terra sugando a seiva da árvores, e só sai da escuridão pra fazer o maior escândalo, só pra tentar trazer pra sua vida miserável um pouco de emoção, tipo, tentar uma transa, um caso, um fora, qualquer evento que lhe tire do tédio.
Convenhamos: a cigarra não nasceu mesmo pra ser gostável.
Ninguém nem sabe porque a cigarra existe. Nem taruíra come aquilo.
Mas a cigarra existe.
Ela sempre vem, mas também sempre vai... Mas sempre vem! Mas sempre vai!
A gente se irrita com um ser tão irritável, mas poxa...
É só uma cigarra!
Ela vive menos que nós, e se vive mais, certamente não curte muito a tal vida na escuridão do submundo, parada parasitando. Ela não vê as árvores florirem nem frutificarem, e quando tem essa oportunidade, está quase morrendo.
Dá pena.
É foda sentir pena da cigarra.
O sentimento de pena é um sentimento de impotência.
Tantos seres lindos, interessantes, inteligentes e ela foi ser logo uma cigarra?
A vida é louca, mano.