Arne
Lá estava eu dentro do coletivo cheio, naquele banco atrás do trocador. Do meu lado tinha uma mãe com o filho de uns quatro anos.
O menino não parava de falar. Todo mundo prestava atenção nele, porque ele era bem inquieto e perguntador.
Só que o menino não tirava os olhos do trocador;
O trocador era um jovem negro, de pele muito escura, lisa e brilhante como seda. Ele percebeu a atenção do menino e resolveu mexer com ele:
- E aí, campeão! É Galo ou Cruzeiro?
O menino ficou paradinho, paradinho, mudo e impressionado.
A mãe interferiu: - Fala para ele, Artur: É Galo!
O menino não reagiu. Continuou olhando.
Aí depois de um tempo, o menino perguntou para o trocador:
- Quem te pintou?
Explodiu a gargalhada geral.
Inevitável.
E na expectativa de todo mundo, o trocador respondeu rindo, apontando para cima: - Quem me pintou foi Papai do Céu!
O menino ficou satisfeito com a resposta e fez aquele sorrisão.
A mãe do menino não o repreendeu pela pergunta e o trocador não se ofendeu. Foi muito legal, todo mundo se divertiu.
E foi a primeira vez que eu vi uma criança sendo tão criança.